Trabalho de Mitologa I
Trabalho de Mitologa I
Nome: Tiago Cordeiro Ferreira
Análise sobre os personagens mitológicos Urano e Cronos
2005.1
Hesíodo cita Urano na Teogonia em ?...Terra primeiro pariu a si mesma Céu constelado, para cercá-la toda ao redor e ser aos deuses venturosos sede irresvalável sempre ...? ao falar da relação do Céu (Urano) com Gèia (Terra) e seus filhos completa ?...Quantos da Terra e do Céu nasceram filhos os mais temíveis, detestava-os o pai dês o começo...? dessa forma já sabemos as duas coisas mais importantes para conhecer a identidade de Urano. Ele foi gerado pela Terra e a ela passou a acompanhar como amante. Contudo, apesar disso, não permitiu que seus filhos fossem gerados, aprisionando-os na Terra.
Já Cronos é mencionado quase junto com Urano quando Hesíodo afirma ?...E após com ótimas armas Cronos de curvo pensar, filho o mais terrível: detestou o florescente pai? pouco sabemos sobre a relação entre pai e filho até então. Mas, quando lemos ?...Quantos da Terra e do Céu nasceram, filhos os mais temíveis, detestava-os o pai dês o começo: tão logo cada um deles nascia a todos ocultava, à luz não os permitindo, na cova da Terra. Alegrava-se na maligna obra o Céu.? Ou seja, descobrimos que Urano não permitia que seus filhos nascessem de fato, aprisionando-os na Terra. Após afirmar que Gèia conclamou os filhos a revoltarem-se contra este ato, mas todos tiveram medo. Porém, Cronos afirmou ?Mãe, isto eu prometo e cumprirei a obra, porque nefando não me importa o nosso pai, pois ele tramou antes obras indignas...? Sendo assim, sabemos que Cronos é um dos filhos aprisionados por Urano, mas que ao contrário dos demais possui coragem para se levantar contra o pai. ?...Da tocaia o filho alcançou com a mão ceifou com ímpeto e lançou-o a esmo longa e dentada. E do pai o pênis esquerda, com a destra pegou a prodigiosa foice para trás...? a relação entre pai e filho é marcado por este rompimento literal (e posterior ao rompimento afetivo) e sabemos que Cronos é o mais novo da segunda geração e aquele que veio para destronar o pai.
Junito Brandão fala dos dois mitos de forma mais didática. Urano é citado logo no primeiro parágrafo quando afirma ?A primeira do Cosmo segue-se o que se poderia chamar estágio intermediário em que Urano (Céu) se une a Geia (Terra)...? Ainda a respeito da união dos dois deuses, Brandão afirma que podemos denominá-la de Hierogamia, ?um casamento sagrado, cujo objetivo precípuo é a fertilidade da mulher, dos animais e da terra...?. Brandão volta ao Céu quando define Cronos: ?...O fato é que Urano, tão logo nasciam os filhos, devolvia-os ao seio materno, temendo ser destronado por um deles...? Ainda a respeito de Urano e de sua investida contra seus filhos, afirma: ?...A castração de Urano põe fim a uma longa e ininterrupta procriação, de resto inútil, uma vez que o pai devolvia os recém-nascidos ao ventre materno...? salientando assim como o próprio Urano impedia o desenvolvimento do mundo. Já a respeito de Cronos, Brandão surpreende a maioria das pessoas ao corrigir o equívoco de que, primordialmente, o deus representasse o tempo (embora admita que simbolicamente a comparação faz sentido, já que Cronos é o deus que devora os filhos que gera). A respeito do pedido de Géia para os filhos se revoltarem contra os pais, completa ?Todos se recusaram, exceto o caçula, Crono, que odiava o pai.? salientando a história contada por Hesíodo.
A partir destes estudos o grau de interpretações e compreensão do mito que podemos buscar é enorme. Diversas releituras já foram feitas em livros e filmes da mitologia grega. Neste encerramento, busco apenas trazer mais uma visão de um mito tão rico.
É importante ressaltar que toda mitologia começa de um ponto em que não há a preocupação de se definir o que veio antes. Mesmo porquê, em termos de formação de universos e de cultura, o ?antes? pode, simplesmente, não existir (já que a realidade sequer seria como conhecemos). Da mesma forma, o ponto de partida é que surge Caos e a partir daí os outros deuses. Deixando isso de lado, Urano, é, em um primeiro momento, o grande deus pai. Aquele que gera os deuses que reinariam sobre o mundo. Porém, satisfeito com sua supremacia, não deseja mudanças. Busca a acomodação, enquanto Géia não pode permitir que suas crias não nasçam, e não mudem o mundo.
Entendemos que tanto Urano quanto Cronos estão intimamente relacionados. O ódio de Cronos é o ódio comum de um filho que não consegue o amor do pai (que prefere que ele não exista) e que através dessa rejeição (que talvez não encontre par em nenhuma ficção) tira do pai seu poder, representado pelo seu pênis e toma seu lugar ao lado da mãe. Além das obviedades freudianas (o filho deseja sempre tomar o lugar do pai) e das teatrais (o mito de Édipo é praticamente uma releitura da história desta Hierogamia) é importante salientar como Urano também é punido por ultrapassar sua importância (assim como diversos mortais em suas tragédias), além disso, Urano não conquista apenas a liberdade, mas o lugar do pai. Deita-se com sua mãe e tem sobre seus filhos o mesmo poder que seu pai possuía. Ao invés de demonstrar grandeza e de ser um pai, passa a ser ainda mais igual à Urano, ao querer impedir o nascimento de seus filhos. Temendo ser vítima do mesmo crime que cometeu. Se Urano não permitia que os filhos nascessem, Cronos que ludibriou este crime, passa a devorá-los, tirando da mãe qualquer hipótese de se relacionar com os filhos. Mais uma vez, um deus extrapõe suas condições divinas e será punido por isto, com Zeus que é um deus que não busca o trono do pai, mas criar um novo reino e uma era mais civilizada.
Tanto Urano quanto Cronos representam a história do filho que repete os pecados do pai, como se houvesse daí uma predisposição genedivina e que eles não podem interromper, apenas perpetuar até que chegue um deus que se encarregará de corrigir estes erros. Cronos é uma espécie de Zeus que não deu certo, ou seja, o novo deus que não trouxe, em sua condição de nova geração, um novo tempo, um novo pensamento. Podemos perceber como é notória a inquietação da juventude e de como sempre são reconhecidos como o ?futuro da humanidade?, Cronos não é o futuro, pois estaciona no presente que lhe é mais confortável. A respeito disso, se insistirmos no ?equívoco pertinente? de que Cronos representa o tempo, a interpretação pode trilhar outras idéias. Urano, o Céu (marcado como o limite da criação e ao mesmo tempo um plano sem limites concebíveis), gera o Tempo. O Céu impede que o Tempo nasça e por ele é maculado, perdendo seu poder infinito. É como se ao nascer, o Tempo tornasse o Firmamento, menos infinito, e também tivesse sua hora de acabar. Ao contrário do Céu, o Tempo não impede que seus filhos nasçam, mas os devora assim que surgem (na verdade, esse momento tão instantâneo poderia ainda ser entendido como, simplesmente, uma vida normal, mas para o tempo ? ?o menos finito dos infinitos? posto que devora a todos ? um instante apenas).
Ainda a respeito de Urano, podemos entender como Géia representa uma força muito mais criadora enquanto a de Cronos é muito mais restritiva (impede que a criação aja). Para que a nova geração surja, Urano precisa ser destruído (não de uma forma literal, mas simbólica, com a perda de sua virilidade) e Cronos o destrói. Posteriormente, o próprio Cronos também será uma força mais restritiva e também deverá ser destruído (agora literalmente, como se caregasse os pecados que seu pai cometeu). Ou seja, percebemos que os dois ícones masculinos, em um primeiro momento, buscam impedir que o ícone feminino (que representa a geradora e criadora) aja, mesmo que sua ação represente sua contigüidade. Ainda assim, é preciso que sejam destruídos para que a criação aja. Como se para cada criação, fosse necessária também, alguma destruição em algum grau.
Se Urano é o Céu, sua condição de força restritiva surge, pois o Céu nasce para servir de morada dos deuses (e, em um primeiro momento, não aceita esta condição tornando Géia a morada dos deuses, mas acaba cumprindo seu papel) e para abraçar Géia (ou quem sabe, impedir que esta se espalhe ou não tenha limites?). E Cronos ? que não é o tempo, primordialmente, mas podemos buscar entendê-lo assim ? é a força restritiva que traz a finitude (talvez, por isso, com sua morte, os deuses que vêm são entendidos como mais imortais do que nunca). Mesmo que não aceitemos Cronos como tempo, podemos compreender sua condição de filho que não busca sua própria condição de portador de uma nova era, mas apenas tomar o lugar do pai. E quando possui essa opção, prefere que as coisas, simplesmente, permaneçam como estão.
Infelizmente, o mundo (ou seria o tempo?) não pára (de acontecer, de criar e de mudar).
Análise sobre os personagens mitológicos Urano e Cronos
2005.1
Hesíodo cita Urano na Teogonia em ?...Terra primeiro pariu a si mesma Céu constelado, para cercá-la toda ao redor e ser aos deuses venturosos sede irresvalável sempre ...? ao falar da relação do Céu (Urano) com Gèia (Terra) e seus filhos completa ?...Quantos da Terra e do Céu nasceram filhos os mais temíveis, detestava-os o pai dês o começo...? dessa forma já sabemos as duas coisas mais importantes para conhecer a identidade de Urano. Ele foi gerado pela Terra e a ela passou a acompanhar como amante. Contudo, apesar disso, não permitiu que seus filhos fossem gerados, aprisionando-os na Terra.
Já Cronos é mencionado quase junto com Urano quando Hesíodo afirma ?...E após com ótimas armas Cronos de curvo pensar, filho o mais terrível: detestou o florescente pai? pouco sabemos sobre a relação entre pai e filho até então. Mas, quando lemos ?...Quantos da Terra e do Céu nasceram, filhos os mais temíveis, detestava-os o pai dês o começo: tão logo cada um deles nascia a todos ocultava, à luz não os permitindo, na cova da Terra. Alegrava-se na maligna obra o Céu.? Ou seja, descobrimos que Urano não permitia que seus filhos nascessem de fato, aprisionando-os na Terra. Após afirmar que Gèia conclamou os filhos a revoltarem-se contra este ato, mas todos tiveram medo. Porém, Cronos afirmou ?Mãe, isto eu prometo e cumprirei a obra, porque nefando não me importa o nosso pai, pois ele tramou antes obras indignas...? Sendo assim, sabemos que Cronos é um dos filhos aprisionados por Urano, mas que ao contrário dos demais possui coragem para se levantar contra o pai. ?...Da tocaia o filho alcançou com a mão ceifou com ímpeto e lançou-o a esmo longa e dentada. E do pai o pênis esquerda, com a destra pegou a prodigiosa foice para trás...? a relação entre pai e filho é marcado por este rompimento literal (e posterior ao rompimento afetivo) e sabemos que Cronos é o mais novo da segunda geração e aquele que veio para destronar o pai.
Junito Brandão fala dos dois mitos de forma mais didática. Urano é citado logo no primeiro parágrafo quando afirma ?A primeira do Cosmo segue-se o que se poderia chamar estágio intermediário em que Urano (Céu) se une a Geia (Terra)...? Ainda a respeito da união dos dois deuses, Brandão afirma que podemos denominá-la de Hierogamia, ?um casamento sagrado, cujo objetivo precípuo é a fertilidade da mulher, dos animais e da terra...?. Brandão volta ao Céu quando define Cronos: ?...O fato é que Urano, tão logo nasciam os filhos, devolvia-os ao seio materno, temendo ser destronado por um deles...? Ainda a respeito de Urano e de sua investida contra seus filhos, afirma: ?...A castração de Urano põe fim a uma longa e ininterrupta procriação, de resto inútil, uma vez que o pai devolvia os recém-nascidos ao ventre materno...? salientando assim como o próprio Urano impedia o desenvolvimento do mundo. Já a respeito de Cronos, Brandão surpreende a maioria das pessoas ao corrigir o equívoco de que, primordialmente, o deus representasse o tempo (embora admita que simbolicamente a comparação faz sentido, já que Cronos é o deus que devora os filhos que gera). A respeito do pedido de Géia para os filhos se revoltarem contra os pais, completa ?Todos se recusaram, exceto o caçula, Crono, que odiava o pai.? salientando a história contada por Hesíodo.
A partir destes estudos o grau de interpretações e compreensão do mito que podemos buscar é enorme. Diversas releituras já foram feitas em livros e filmes da mitologia grega. Neste encerramento, busco apenas trazer mais uma visão de um mito tão rico.
É importante ressaltar que toda mitologia começa de um ponto em que não há a preocupação de se definir o que veio antes. Mesmo porquê, em termos de formação de universos e de cultura, o ?antes? pode, simplesmente, não existir (já que a realidade sequer seria como conhecemos). Da mesma forma, o ponto de partida é que surge Caos e a partir daí os outros deuses. Deixando isso de lado, Urano, é, em um primeiro momento, o grande deus pai. Aquele que gera os deuses que reinariam sobre o mundo. Porém, satisfeito com sua supremacia, não deseja mudanças. Busca a acomodação, enquanto Géia não pode permitir que suas crias não nasçam, e não mudem o mundo.
Entendemos que tanto Urano quanto Cronos estão intimamente relacionados. O ódio de Cronos é o ódio comum de um filho que não consegue o amor do pai (que prefere que ele não exista) e que através dessa rejeição (que talvez não encontre par em nenhuma ficção) tira do pai seu poder, representado pelo seu pênis e toma seu lugar ao lado da mãe. Além das obviedades freudianas (o filho deseja sempre tomar o lugar do pai) e das teatrais (o mito de Édipo é praticamente uma releitura da história desta Hierogamia) é importante salientar como Urano também é punido por ultrapassar sua importância (assim como diversos mortais em suas tragédias), além disso, Urano não conquista apenas a liberdade, mas o lugar do pai. Deita-se com sua mãe e tem sobre seus filhos o mesmo poder que seu pai possuía. Ao invés de demonstrar grandeza e de ser um pai, passa a ser ainda mais igual à Urano, ao querer impedir o nascimento de seus filhos. Temendo ser vítima do mesmo crime que cometeu. Se Urano não permitia que os filhos nascessem, Cronos que ludibriou este crime, passa a devorá-los, tirando da mãe qualquer hipótese de se relacionar com os filhos. Mais uma vez, um deus extrapõe suas condições divinas e será punido por isto, com Zeus que é um deus que não busca o trono do pai, mas criar um novo reino e uma era mais civilizada.
Tanto Urano quanto Cronos representam a história do filho que repete os pecados do pai, como se houvesse daí uma predisposição genedivina e que eles não podem interromper, apenas perpetuar até que chegue um deus que se encarregará de corrigir estes erros. Cronos é uma espécie de Zeus que não deu certo, ou seja, o novo deus que não trouxe, em sua condição de nova geração, um novo tempo, um novo pensamento. Podemos perceber como é notória a inquietação da juventude e de como sempre são reconhecidos como o ?futuro da humanidade?, Cronos não é o futuro, pois estaciona no presente que lhe é mais confortável. A respeito disso, se insistirmos no ?equívoco pertinente? de que Cronos representa o tempo, a interpretação pode trilhar outras idéias. Urano, o Céu (marcado como o limite da criação e ao mesmo tempo um plano sem limites concebíveis), gera o Tempo. O Céu impede que o Tempo nasça e por ele é maculado, perdendo seu poder infinito. É como se ao nascer, o Tempo tornasse o Firmamento, menos infinito, e também tivesse sua hora de acabar. Ao contrário do Céu, o Tempo não impede que seus filhos nasçam, mas os devora assim que surgem (na verdade, esse momento tão instantâneo poderia ainda ser entendido como, simplesmente, uma vida normal, mas para o tempo ? ?o menos finito dos infinitos? posto que devora a todos ? um instante apenas).
Ainda a respeito de Urano, podemos entender como Géia representa uma força muito mais criadora enquanto a de Cronos é muito mais restritiva (impede que a criação aja). Para que a nova geração surja, Urano precisa ser destruído (não de uma forma literal, mas simbólica, com a perda de sua virilidade) e Cronos o destrói. Posteriormente, o próprio Cronos também será uma força mais restritiva e também deverá ser destruído (agora literalmente, como se caregasse os pecados que seu pai cometeu). Ou seja, percebemos que os dois ícones masculinos, em um primeiro momento, buscam impedir que o ícone feminino (que representa a geradora e criadora) aja, mesmo que sua ação represente sua contigüidade. Ainda assim, é preciso que sejam destruídos para que a criação aja. Como se para cada criação, fosse necessária também, alguma destruição em algum grau.
Se Urano é o Céu, sua condição de força restritiva surge, pois o Céu nasce para servir de morada dos deuses (e, em um primeiro momento, não aceita esta condição tornando Géia a morada dos deuses, mas acaba cumprindo seu papel) e para abraçar Géia (ou quem sabe, impedir que esta se espalhe ou não tenha limites?). E Cronos ? que não é o tempo, primordialmente, mas podemos buscar entendê-lo assim ? é a força restritiva que traz a finitude (talvez, por isso, com sua morte, os deuses que vêm são entendidos como mais imortais do que nunca). Mesmo que não aceitemos Cronos como tempo, podemos compreender sua condição de filho que não busca sua própria condição de portador de uma nova era, mas apenas tomar o lugar do pai. E quando possui essa opção, prefere que as coisas, simplesmente, permaneçam como estão.
Infelizmente, o mundo (ou seria o tempo?) não pára (de acontecer, de criar e de mudar).