quinta-feira, dezembro 14, 2006

O(s) Tempo(s) Perdido(s)

Em uma matéria que escrevi sobre o livro Jornalismo Literário, o jornalista Felipe Pena abordou uma alternativa ao conceito da ilusão biográfica, do filósofo francês Pierre Bourdieu. Bordieu acreditava em uma biografia que fosse um relato coerente de uma seqüência de acontecimentos e direção. Para Pena, entretanto, o objetivo maior da biografia seria ter capítulos que abordassem as múltiplas identidades do personagem. Somos todos muitos.


Esses capítulos não precisaria ter início, meio ou fim. A biografia de Felipe Web, por exemplo, poderia começar de quando ele, Thales Martins e eu criamos o Melhoresdomundo.net. Depois, seria possível abordar sua época como estudante do Instituto Guanabara, sua entrada na PUC, sua formatura, o curso de jornalismo que (sapientemente) descartou e depois poderíamos falar de seus namoros (começando, claro, por Bia Maravilha, a mais importante) e fechando com sua infância. Algum sentido cronológico?


Descronologia
A peça Renato Russo também opta, na maior parte do tempo, por priorizar as identidades de Renato Russo e não por sua história linear. A peça começa com Renato adulto, retorna à sua adolescência quando teve problema nos seus ossos e depois segue um fluxo mais linear. Na minha opinião, o ponto forte é quando ela aposta na confusão cronológica, optando por uma "linearidade de clímax". O que dita a sucessão de acontecimentos é sua importância e não sua época exata.


Da mesma forma, roteiros de cinema que contam uma história - biográfica ou não - não precisam apostar em uma narrativa linear. O (melhor) exemplo (de todos) é Cidadão Kane. O roteiro começa com a morte do personagem principal e ao voltar para seu passado aposta em um vai e vem com o presente onde os flashbacks se complementam e termina após a morte. Rosebud.


Descomeços
A teoria, essencial para qualquer exemplar de jornalismo literário, revela possibilidades inovadoras para qualquer outro exemplo de comunicação. Uma reportagem para o rádio sobre Romário pode começar com a narração de seu gol a Suécia na copa de 94 e terminar com sua declaração "quando eu nasci, papai do céu disse: esse é o cara". Aquele livro que você nunca começou a escrever não precisa começar pelo primeiro capítulo. Quem sabe se não pelo penúltimo ato. Impossível?


Falando em impossível e começar pelo penúltimo ato...Vocês viram Missão Impossível 3? Pois é...