segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Entrevista com a equipe de Ronin Soul

Destaque das bancas no último mês e tema de uma comunidade no Orkut, a revista Ronin Soul foi uma grata surpresa para o quadrinho nacional. Em um meio tão saturado de mesmices e repetições, a revista usa um tema batido como samurais para sua história, mas afastando-se da estética mangá, tão usada em qualquer um que cite o Japão.

Sua equipe criativa é composta pelo roteirista Fabrício Velasco, pelo desenhista Rodrigo Pereira (Rod), Salvatore Aiala assina como colorista junto com Queila Galli e Marco Aurélio é o Webdesigner responsável pelo site do estúdio. Estúdio? É, isso mesmo, a equipe da Ronin Soul possui um estúdio homônimo e outros projetos, mas a intenção é de se concentrar somente em sua Graphic Novel.

O primeiro número de Ronin Soul não rompe fronteiras e está longe de ser um divisor de águas das histórias em quadrinhos. E nem é isso que seus artistas desejam, mas simplesmente fazer uma boa Graphic Novel, com todas as letras. E conseguem! Se o roteiro de Fabrício Velasco não surpreende, também não compromete. Na verdade, o número 1 trata-se de uma apresentação rasa. Ao que tudo indica, apenas no próximo número a aventura realmente começará. O que chama realmente a atenção é a impressionante arte de Rod Pereira (que já fez trabalhos nos Estados Unidos desenhando dois números de Star Wars Outlander e participou dos desenhos de algumas edições de Dungeons & Dragons, entre outros trabalhos), acompanhado pelos talentosos coloristas Aiala e Galli. Vale a pena conferir.

A Ronin Soul é uma publicação nacional. Em um mercado comercialmente instável como o dos quadrinhos isso já seria louvável, em se tratando, mais especificamente, de um país como o Brasil é quase heróico. Como começou a idéia e todo o processo até a publicação da revista? Quais as principais dificuldades enfrentadas, em um mercado tão comprometido com Comics e mangás?

Fabrício - Tão antigo quanto nosso ideal de formar um estúdio ou até mais, é o nosso sonho de fazer nossas próprias histórias em quadrinhos. Então, inicialmente, resolvemos começar a produzir, mesmo sem editora, contrato, dinheiro, enfim, nada hehehe. Simplesmente por puro amor à nona arte. Conforme definimos nossa primeira história em um formato “graphic novel”, resolvemos não esperar mais e mostrar a alguma editora, na esperança que o nosso projeto ganhasse vida. E foi justamente o que aconteceu quando oferecemos à editora Nomad. Esse era na verdade apenas o primeiro passo e teríamos que enfrentar diversas dificuldades ainda, como por exemplo, a corrida contra o prazo (o estilo de pintura que escolhemos é muito trabalhoso, o que leva tempo para ser produzido), além também de dificuldades no mercado para expor nossa revista. Mas a editora Nomad investiu bastante na revista e colocou nossa Graphic Novel nas bancas de todo o Brasil. Agora só nos resta trabalhar bastante para oferecermos o nosso melhor a cada edição.

Rod – E uma das surpresas que temos guardadas é justamente os “vilões” da série, que acreditamos, serão bem interessantes, mas é surpresa, não vamos contar mais nada por enquanto.

O tema da Ronin Soul não é exatamente uma novidade. Samurais e seu universo são um tema comum nos quadrinhos, onde os mangás são uma onda (ou um tsunami) cada vez mais poderoso. Curiosamente, vocês passam longe dessa estética e aproximam-se mais dos Comics do que dos quadrinhos japoneses. Por quê essa opção de contar uma história ambientada no Japão, sem usar a estética mangá, tão em voga atualmente?

Fabrício - Realmente admiramos bastante a cultura Samurai, e os mangás, mas esse não é exatamente o nosso estilo, pelo menos nesta nossa primeira graphic novel, preferimos um estilo mais “realista”, tanto de narrativa como de desenho. Ainda assim escolhemos os samurais dentro de um conceito “histórico” como tema inicial e plano de fundo de nossa história, pois são bastante diversificados em visual e muito intrigantes para que não aproveitássemos. Mas vale lembrar que a Graphic Novel não se passa apenas no Japão medieval, ao contrário, o foco maior deve ficar em nosso tempo mesmo, mas não quero adiantar muito sobre a história, todos terão que ler e descobri-la edição após edição, adianto apenas que ao criar esta história buscamos algo diferente. E assim esperamos surpreender e entreter o leitor no decorrer da trama.


Em comunidades no Orkut e fóruns de discussão, a maioria dos leitores chama a atenção para a arte de Rodrigo Luiz Pereira, o Rod Pereira. Rodrigo, Quais são suas influências e como se sente com tantos elogios?

Rod – Bem, em primeiro lugar fico lisonjeado com os elogios e com as críticas construtivas, isso só me faz querer ser melhor e aprender cada vez mais. Quanto às influências, é meio difícil especificar por poucas, por que eu me deixo influenciar por várias formas de arte. Desde artistas de Historias em Quadrinhos como Travis Charest, Jim Lee, John Buscema, Will Eisner, Frank Miller, Mike Mignola, Moebius, Juan Gimenez e muitos outros que agora não vou me lembrar todos os nomes. Como também estudo vários pintores clássicos, ilustradores de ConcepArt, Cinema, Fotos, DVD, enfim, tudo que eu puder usar para obter o melhor resultado possível em uma página de historia em quadrinhos.

Apesar da inovação, a primeira edição de Ronin Soul termina com um final que dá a deixa para a formação de um grupo de aventureiros. Gancho bem conhecido para quem joga RPG ou lê quadrinhos há tempos. Quais são as principais novidades que a Ronin Soul trará além de sua abordagem diferente do mundo dos samurais?

Fabrício - É realmente você acertou, ainda temos algumas reviravoltas guardadas para a trama, e o futuro surgimento de um grupo de heróis (ou aventureiros mesmo, como citado a cima). Mas não necessariamente será um grupo como aqueles que estamos habituados a ver em Histórias em Quadrinhos americanas, a trajetória destas pessoas “espiritualmente” marcadas pode tomar um rumo inesperado. Como eu disse antes, não queremos revelar muito da trama antes da hora, não temos aqui a pretensão de nenhuma “revolução em histórias em quadrinhos”, mas o nosso ideal é oferecer uma história interessante e prazerosa ao leitor.

Por último, quais os futuros projetos do Ronin Soul Studio?

Fabrício - Idéias ainda temos muitas nas mangas, mas temos que dar um passo de cada vez, seria ótimo se pudéssemos produzir mais do que uma HQ por mês como as editoras americanas fazem, mas na verdade ainda estamos engatinhando, e o nosso mercado, infelizmente, também ainda não é como o deles. Mas como vivemos em um mundo globalizado, tudo é possível. A principio nós aqui do “Studio”, vamos nos concentrar em Ronin Soul, e por um bom tempo, pois temos cerca de oito edições planejadas até o fim da trama desta Graphic Novel, e até lá muita coisa pode acontecer!

(*) Publicado originalmente no Sobrecarga.