Só não pode chorar
Só não pode chorar
A vitória do Flamengo sobre o Botafogo no último domingo merece muitos adjetivos, mas não o "incontestável". Afinal de contas, uma decisão por pênaltis raramente é. Porém, para os alvinegros, ela não só foi injusta como desleal.
Bebeto de Freitas, Arthur Dapieve, Carlos Augusto Montenegro e Marcelo Tavela, por exemplo, acham todos que houve "roubo" na partida por um pênalti não-marcado e porque nos minutos finais o juiz deu um impedimento inexistente ao time de General Severiano e expulsou o atacante Dodô, que chutou ao gol depois da marcação.
Convenientemente, os botafoguenses não comentam o pênalti de Luciano Almeida em Roni, que iguala a primeira injustiça.
A segunda é superestimada. O tal "gol" que dizem existir, nunca ocorreu. Dodô chutou a bola com o goleiro Bruno imóvel. Dizer que ele faria ou não o gol se Bruno pulasse é adivinhação. Um grande artilheiro e um grande goleiro. Não há como prever o que ocorreria se o impedimento jamais fosse marcado e lançar suspeição sobre isso é coisa de torcedor, não de quem quer encarar o futebol como ele é: injusto e emocionante.
Chutou pra quê?
A expulsão de Dodô foi absolutamente dentro da regra. Já tinha um cartão amarelo e recebeu outra por chutar, mesmo com o impedimento marcado. A pergunta que ninguém da imprensa fez - e que a torcida alvinegra esqueceu porque é mais conveniente culpar o adversário - é qual o motivo de Dodô ter chutado mesmo com a marcação do juiz? Não ouviu? Difícil. Quis ganhar no grito da torcida? Ou vestiu sua conhecida máscara habitual?
Ninguém sabe. Os repórteres em campo erraram ao não fazer essa pergunta - o atacante só comentou como seria "difícil" assistir as cobranças de fora por causa de um erro do juiz. Os botafoguenses também ignoraram o fato. Direito da torcida.
Nos pênaltis, segundo o regulamento a última instância da disputa de quem é o melhor, ganhou o time que cobrou melhor e com o melhor goleiro. Se o goleiro Julio César prefere fazer pênalti a ser leal com o time adversário, que pague o preço de ver o Max agarrando em seu lugar.
Justiça
Não houve injustiça alguma no jogo, além do impedimento (e, convenhamos, impedimentos não dados existem em QUALQUER jogo e como aquele, em outras zilhões de partidas). Cada time marcou dois gols, onde está o injustiçado? Sim, o Botafogo jogou melhor, por grande parte do jogo, e deve se perguntar porque essa superioridade não se traduziu em gols.
Outros times venceram jogando muito pior que o Flamengo e jamais tiveram seus títulos contestados. O título rubro-negro segue uma longa trajetória de trabalho, suor, talento e sorte do Flamengo com o Botafogo usando os mesmos elementos, porém desprezando o velho bordão do futebol: quem não faz, leva. Ou seja, quem não decide, perde.
Choro não condiz com as tradições do Botafogo. Dizer que é melhor do que o time que perdeu, também não. Mas o que esperar quando o técnico chegou a dizer que o "Botafogo merecia o título" antes mesmo da partida?
Qualquer coisa fora disso, é choro de torcedor. E torcedor que perde título não tem que chorar. Tem que aguentar e torcer e exigir por dias melhores. O Flamengo passou 14 anos sem um título nacional até ser campeão da Copa do Brasil e ser campeão estadual e fazer um papel frustante, porém auspicioso, na Libertadores.
Injustiça
Sim, na quarta-feira passada houve uma injustiça, de fato. O juiz argentino Héctor Baldassi ignorou a catimba uruguaia que atrasou o jogo muito além dos três minutos que deu, inverteu faltas e simplesmente fez que não viu dois pênaltis.
Daí alegar uma conspiração envolvendo o Boca Junior - que é possível e lógica, mas sem nenhum fundamento concreto - como fez Klebito Pé Frio é choro. Assim como alguns alvinegros choraram. O Flamengo pagou o preço de uma primeira partida em que esteve irreconhecível.
Da mesma forma como não mereceu vencer apenas por 2 X 0, o Flamengo também não mereceu perder apenas de 3 X 0. O juiz é um detalhe frustrante de uma partida em que fizemos valer a reversão a eliminação. Mas juízes ruins ou mal intencionados, times catimbeiros, campos ruins e resultados injustos são a própria essência da Taça Libertadores.
Conveniência
Ainda na decisão do Estadual, o mesmo Botafogo que reclama de roubo na decisão do Estadual é o Botafogo que vibra com a abritragem equivocada do jogo da Taça Libertadores e que ignora um erro ao seu favor em partida decisiva na Copa do Brasil quando enfrentou o único - rigorosamente o único - time em uma fase técnica tão boa quanto a sua.
A vitória deixou o time da estrela solitária com a mão na taça em uma semifinal contra um adversário fraco e uma final cujo time mais forte é o irregular Fluminense, que não tem um mês com o novo técnico. O erro foi tão evidente que o próprio juiz pediu desculpas.
Então, o Botafogo chora o roubo - que não houve - quando lhe é conveniente, vibra quando é contra o adversário, mas finge que não vê quando essas mesmas injustiças lhe colocam um título nas mãos?
O melhor é não chorar e jogar bola. Time o Botafogo tem. Só precisa aprender que para ser campeão é preciso mais do que jogar melhor. E não sou o único que pensa assim.
Quanto ao Flamengo, é esperar contratações e que o time seja mantido - com a exceção de jogadores como Claiton e Roni. É uma equipe que ainda dará mais alegrias do que o Estadual.