sábado, maio 12, 2007

Só não pode chorar

Ainda bem que ele não sabe agarrar!


A vitória do Flamengo sobre o Botafogo no último domingo merece muitos adjetivos, mas não o "incontestável". Afinal de contas, uma decisão por pênaltis raramente é. Porém, para os alvinegros, ela não só foi injusta como desleal.

Bebeto de Freitas, Arthur Dapieve, Carlos Augusto Montenegro e Marcelo Tavela, por exemplo, acham todos que houve "roubo" na partida por um pênalti não-marcado e porque nos minutos finais o juiz deu um impedimento inexistente ao time de General Severiano e expulsou o atacante Dodô, que chutou ao gol depois da marcação.

Convenientemente, os botafoguenses não comentam o pênalti de Luciano Almeida em Roni, que iguala a primeira injustiça.

A segunda é superestimada. O tal "gol" que dizem existir, nunca ocorreu. Dodô chutou a bola com o goleiro Bruno imóvel. Dizer que ele faria ou não o gol se Bruno pulasse é adivinhação. Um grande artilheiro e um grande goleiro. Não há como prever o que ocorreria se o impedimento jamais fosse marcado e lançar suspeição sobre isso é coisa de torcedor, não de quem quer encarar o futebol como ele é: injusto e emocionante.

Chutou pra quê?
A expulsão de Dodô foi absolutamente dentro da regra. Já tinha um cartão amarelo e recebeu outra por chutar, mesmo com o impedimento marcado. A pergunta que ninguém da imprensa fez - e que a torcida alvinegra esqueceu porque é mais conveniente culpar o adversário - é qual o motivo de Dodô ter chutado mesmo com a marcação do juiz? Não ouviu? Difícil. Quis ganhar no grito da torcida? Ou vestiu sua conhecida máscara habitual?

Oh, meu mengão!


Ninguém sabe. Os repórteres em campo erraram ao não fazer essa pergunta - o atacante só comentou como seria "difícil" assistir as cobranças de fora por causa de um erro do juiz. Os botafoguenses também ignoraram o fato. Direito da torcida.

Nos pênaltis, segundo o regulamento a última instância da disputa de quem é o melhor, ganhou o time que cobrou melhor e com o melhor goleiro. Se o goleiro Julio César prefere fazer pênalti a ser leal com o time adversário, que pague o preço de ver o Max agarrando em seu lugar.

Justiça
Não houve injustiça alguma no jogo, além do impedimento (e, convenhamos, impedimentos não dados existem em QUALQUER jogo e como aquele, em outras zilhões de partidas). Cada time marcou dois gols, onde está o injustiçado? Sim, o Botafogo jogou melhor, por grande parte do jogo, e deve se perguntar porque essa superioridade não se traduziu em gols.

Outros times venceram jogando muito pior que o Flamengo e jamais tiveram seus títulos contestados. O título rubro-negro segue uma longa trajetória de trabalho, suor, talento e sorte do Flamengo com o Botafogo usando os mesmos elementos, porém desprezando o velho bordão do futebol: quem não faz, leva. Ou seja, quem não decide, perde.

Choro não condiz com as tradições do Botafogo. Dizer que é melhor do que o time que perdeu, também não. Mas o que esperar quando o técnico chegou a dizer que o "Botafogo merecia o título" antes mesmo da partida?

Qualquer coisa fora disso, é choro de torcedor. E torcedor que perde título não tem que chorar. Tem que aguentar e torcer e exigir por dias melhores. O Flamengo passou 14 anos sem um título nacional até ser campeão da Copa do Brasil e ser campeão estadual e fazer um papel frustante, porém auspicioso, na Libertadores.

Injustiça
Sim, na quarta-feira passada houve uma injustiça, de fato. O juiz argentino Héctor Baldassi ignorou a catimba uruguaia que atrasou o jogo muito além dos três minutos que deu, inverteu faltas e simplesmente fez que não viu dois pênaltis.

Daí alegar uma conspiração envolvendo o Boca Junior - que é possível e lógica, mas sem nenhum fundamento concreto - como fez Klebito Pé Frio é choro. Assim como alguns alvinegros choraram. O Flamengo pagou o preço de uma primeira partida em que esteve irreconhecível.

Oh, meu mengão!


Da mesma forma como não mereceu vencer apenas por 2 X 0, o Flamengo também não mereceu perder apenas de 3 X 0. O juiz é um detalhe frustrante de uma partida em que fizemos valer a reversão a eliminação. Mas juízes ruins ou mal intencionados, times catimbeiros, campos ruins e resultados injustos são a própria essência da Taça Libertadores.

Conveniência
Ainda na decisão do Estadual, o mesmo Botafogo que reclama de roubo na decisão do Estadual é o Botafogo que vibra com a abritragem equivocada do jogo da Taça Libertadores e que ignora um erro ao seu favor em partida decisiva na Copa do Brasil quando enfrentou o único - rigorosamente o único - time em uma fase técnica tão boa quanto a sua.

A vitória deixou o time da estrela solitária com a mão na taça em uma semifinal contra um adversário fraco e uma final cujo time mais forte é o irregular Fluminense, que não tem um mês com o novo técnico. O erro foi tão evidente que o próprio juiz pediu desculpas.

Então, o Botafogo chora o roubo - que não houve - quando lhe é conveniente, vibra quando é contra o adversário, mas finge que não vê quando essas mesmas injustiças lhe colocam um título nas mãos?

O melhor é não chorar e jogar bola. Time o Botafogo tem. Só precisa aprender que para ser campeão é preciso mais do que jogar melhor. E não sou o único que pensa assim.

Quanto ao Flamengo, é esperar contratações e que o time seja mantido - com a exceção de jogadores como Claiton e Roni. É uma equipe que ainda dará mais alegrias do que o Estadual.