quarta-feira, março 21, 2007

Devagar se chega lá

Uma das coisas que meu namoro mais me ajudou na minha vida profissional foi o de começar a pensar melhor nos projetos que me envolvi. Desde a faculdade peguei o hábito de tentar me envolver em todas as idéias que me aparecem e tentar fazê-las dar certo. Meu período de editor interino também influiu nisso: não há como trabalhar nas horas extras quando...Não há horas extras suficientes.

Não tem sido fácil. Já ignorei um convite para fazer parte de uma associação de roteiristas, acabo de ignorar uma proposta de fazer parte de outro grupo para a criação de uma sitcom...Enfim, o amor da minha vida tem razão quando diz que já sou muito ocupado. Só que não é fácil descartar aquele trabalho que parece promissor.

Se fosse só isso de "muito trabalho", meu velho e bom argumento suicida (ah, meus 30 créditos...Ah fazer duas faculdades, estágio e academia juntos) de "mesmo assim, eu tenho que fazer" ainda estaria valendo, mas a Belle me lembrou de outra lição que havia aprendido na universidade quando dirigi meu próprio filme após dois anos em tentativas frustradas em filmes de outras pessoas que jamais seriam completados.

O problema de entrar no projeto de outras pessoas é que você acaba sacrificando os seus projetos. Em algum momento você precisa optar. Por uma questão de delicadeza, detesto deixar pessoas que contam comigo na mão então atendo primeiro elas e os meus ficam em segundo plano.

Em 2006, acho que isso aconteceu freqüentemente e percebi que as coisas mais importantes para mim como escrever quadrinhos e um livro ficaram de lado.

Não vou deixar mais isso acontecer.

domingo, março 04, 2007

Banda Grossa

Há alguns meses, o mercado de quadrinhos nacionais foi abalado pela polêmica da revista Banda Grossa. O gibi foi financiado pela Fundação Cultural de Joinville, presidida pelo secretário Rodrigo Bornholdt. Após a sua publicação, alguns vereadores reclamaram com o que chamaram de “apologia a drogas” e outros problemas e exigiram o retorno do financiamento. Bornholdt se defende: alega que os editores inscreveram um projeto e concluíram outro enquanto Paulo Gerloff, editor da revista, afirma que, em momento algum, o edital exigia que se descrevesse o projeto, mas apenas se mencionasse trabalhos anteriores.

Não é de hoje que autores de quadrinhos passam por problemas com financiamentos públicos. No início dos anos 90, a revista Dum-Dum, patrocinada pela prefeitura de Porto Alegre, causou a mesma polêmica na oposição que a acusava de pornografia. A revista foi criada por um certo Adão Iturrusgari, criador da personagem Aline.


Insisto em afirmar que a análise dos méritos do conteúdo apresentado na revista Banda Grossa, tanto no projeto inicial quanto no resultado final, é da comissão julgadora. Entretanto, um aspecto curioso a ressaltar é que, aparentemente, o primeiro juízo de valor nesse sentido partiu dos próprios editores da revista, ao divulgar, através de release, em março deste ano, que o lançamento "marca o investimento de verbas públicas - logo, dinheiro do contribuinte - na difusão de idéias relacionadas à iconolastria, ao onanismo, ao sexo por tesão (incluindo zoofilia e necrofilia), ao meretrício, ao consumo de álcool, cigarros e outras drogas menos perigosas". Assim, imagino que os próprios editores poderiam apontar na revista as tais idéias que divulgaram”, afirmou o secretário da Fundação Cultural, em entrevista ao SoBReCaRga.

Bornholdt nega a palavra “censura”. Segundo o secretário, a Fundação Cultural jamais impediu a circulação ou distribuição da revista. “A questão aqui é outra: a comissão que avaliou e aprovou o projeto afirma que o mesmo não foi cumprido. E o que se prevê nesse caso, no contrato assinado entre as partes, é a devolução dos recursos”, defende.

O que ocorreu foi um equivoco da Câmara de Vereadores, que não está apta à discussões abertas sobre arte. Até então (em cerca de 3 meses), como já mencionei, eu não sabia da rejeição da Fundação Cultural com a revista, se é que existiu isso, tanto que visitei diversas vezes a instituição e nunca me falaram nada, declara Paulo Gerloff, editor da Banda Grossa.

O desmentido não acaba aí. Segundo Gerloff, meia dúzia de exemplares foram entregues à Fundação Cultural antes de seu lançamento, em 31 de março deste ano. “A edição não surtiu nenhum efeito negativo onde a instituição se defende contra os vereadores dizendo que o projeto aprovado não tem nada a ver com publicado”, declara. Gerloff lembra ainda que o projeto previa “uma revista de humor nos moldes da Chiclete com Banana e Animal”.

Para Bornholdt, entretanto os responsáveis pela revista erraram. O secretário lembra que a opinião de que os artistas não obedeceram ao projeto original vem dos membros da comissão que o aprovaram, de forma unânime:

A revista Banda Grossa foi beneficiada no Edital de Apoio às Artes, na categoria de Artes Plásticas - Projeto Coletivo. Nessa modalidade, o edital não solicita obras executadas, já que a maioria das propostas é para execução de projetos inéditos. Uma comissão especialmente convidada, formada por especialistas, analisa a descrição da proposta. Os trabalhos anteriores - e não necessariamente os que serão expostos ou publicados - servem de base para a análise estética, explica.

Entre as medidas judiciais da Fundação Cultural está a exigência da devolução dos recursos aplicados e a retirada das logomarcas da prefeitura e do órgão. “A lição que fica é que mais do que uma prestação de contas financeira, a comissão que aprovou o projeto também deve analisar a execução tecnicamente”, frisa Bornholdt que também complementa afirmando que o novo controle não significa nenhuma perda da liberdade de expressão.

Gerloff não demonstra preocupação. O artista defende a pertinência do seu projeto alegando que não havia nenhum capital para realizá-lo. “Estamos planejando a segunda edição, capitaneada pela venda da primeira, que está vendendo bem por causa dessa polêmica. Acho até que o próximo passo é fundar uma igreja, arrebatar uma centena de fiéis e viver de dízimo”, afirma.

(*) Publicada originalmente no Sobrecarga.