domingo, dezembro 31, 2006

Saddam e a Pena de Morte

Ao contrário do que julguei esta manhã, o vídeo do momento exato do enforcamento de Saddam Hussein já está disponível na web. O Webmerica sintetizou bem meu sentimento: "Webmerica is bringing this to you in the interest of free press. Death is not something to be celebrated, for any cause" (Webamerica está trazendo isto para você pelo interesse em uma imprensa livre. A morte não é algo a ser celebrado, de jeito algum).

Conforme um amigo me disse isso tudo só reafirma ainda mais a inutilidade da pena de morte. Como Pinochet, o cara aprontou e matou sabe-se-lá-bem-quantos e agora escapou em um minuto rápido, sem um segundo para refletir no que fez. Muito melhor seria saber que ele estava em uma prisão limpando latrinas ou sendo obrigado a assistir dezenas de vezes a Top Gun 2.

Desse jeito, ainda vai ter gente sentindo pena de um ditador assassino. Não é vergonha e nem algo para se sentir menos triste. Triste mesmo é no início do século 21 matarmos (sim, matarmos, estamos no mesmo barco como insiste em lembrar o aquecimento global) alguém como no início do século XVIII. Ou antes.

Invasões Bárbaras é eufemismo. E se gritar "crime contra direitos humanos" não fica um, mermão.

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Órfãos do Scrapbook

Como acessar seu scrapbook com o Orkut fora do ar? Milhares de miguxinhos de férias gostariam de responder a esta pergunta neste momento. O motivo? Há cerca de 24 horas o Orkut está fora do ar.

A solução? Como vários outros problemas de computador apenas Deus e o Bill Gates (bom, nesse caso o nome é apenas uma metáfora) sabem.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

1984, o comercial

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Com todos os reality shows que se proliferam pela TV, fica difícil enumerar todas as referências a George Orwell e seu livro 1984. Na verdade, se recordarmos de metade das referências que já foram feitas no cinema, veremos que é fato recorrente na mídia audiovisual.

Um exemplo que é o do comercial pouquíssimo conhecido 1984. Ao final de 1983, a Apple lançou a sua linha Macintosh de computadores em um comercial de 60 segundos na final do Superbowl. Recentemente eleito pela WFA (Federação Mundial de Anunciantes) como o melhor comercial dos últimos 50 anos, o filme publicitário teve vida curta, já que nunca mais foi veiculado novamente. O inacreditável é que isso não impediu que até hoje aquele minuto dirigido por ninguém mais e ninguém menos do que o diretor Ridley Scott - até então diretor de Alien (1979) e Blade Runner, lançado um ano antes - continue a ser comentado.

Tudo começa com um forte exagero de cenário, um salão monumental com uma longa tomada de trabalhadores vestindo roupas típicas de prisioneiros e marchando. O áudio revela uma voz em que se destacam duas palavras: informação e purificação. Como descobrimos, o discurso é feito por um homem de meia-idade que usa óculos e fala através de uma enorme tela. Corte para uma mulher vestida como atleta que carrega em suas mãos um martelo de cabo longo. Ao contrário dos demais personagens, suas roupas são coloridas de branco e vermelho. Mais um corte e vemos os trabalhadores hipnotizados ouvindo o ?grande irmão? fazer seu discurso e com mais um corte um grupo de homens de capacete aparece correndo, atrás da mulher.

Photobucket - Video and Image HostingToda a ação prossegue em meio a uma estética azulada (qual é mesmo a cor do logo da IBM?) e antes que os policiais possam chegar até a atleta ela chega ao local onde todos estão. Gira o martelo, pronta para arremessá-lo e...Solta! Antes que se termine o discurso, a grande tela é quebrada, uma luz branca invade o cenário banhando todos os trabalhadores. Surge um texto: "On January 24th,/ Apple Computer will introduce Macintosh./ And you will see why 1984 / won't be like 1984" ("Em 24 de janeiro,/ a Apple Computadores irá introduzir o Macintosh/ e você verá por que 1984/ não será como 1984).

Por meio da impressionante e poderosa narrativa, Scott dá uma aula sobre cinema. As cenas se apresentam e deixam a conclusão nítida: algo domina as pessoas e alguém fará alguma coisa para mudar isso. Não é à toa que o comercial jamais passou novamente.

O visual moderninho da atleta, com um cabelo curto, corresponde à concepção que a própria Apple queria passar na época: a de revolucionária, ou melhor, de oposição ao regime vigente no mundo da informática. Ideal que se perdeu em algum lugar. Ou não?Mais uma evidência do cinema como meio de propagação de ideologias, conceitos e opiniões.

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O comercial pode ser visto aqui.

(*)Publicado originalmente no Sobrecarga e foi reescrito para ser publicado neste blog.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

O(s) Tempo(s) Perdido(s)

Em uma matéria que escrevi sobre o livro Jornalismo Literário, o jornalista Felipe Pena abordou uma alternativa ao conceito da ilusão biográfica, do filósofo francês Pierre Bourdieu. Bordieu acreditava em uma biografia que fosse um relato coerente de uma seqüência de acontecimentos e direção. Para Pena, entretanto, o objetivo maior da biografia seria ter capítulos que abordassem as múltiplas identidades do personagem. Somos todos muitos.


Esses capítulos não precisaria ter início, meio ou fim. A biografia de Felipe Web, por exemplo, poderia começar de quando ele, Thales Martins e eu criamos o Melhoresdomundo.net. Depois, seria possível abordar sua época como estudante do Instituto Guanabara, sua entrada na PUC, sua formatura, o curso de jornalismo que (sapientemente) descartou e depois poderíamos falar de seus namoros (começando, claro, por Bia Maravilha, a mais importante) e fechando com sua infância. Algum sentido cronológico?


Descronologia
A peça Renato Russo também opta, na maior parte do tempo, por priorizar as identidades de Renato Russo e não por sua história linear. A peça começa com Renato adulto, retorna à sua adolescência quando teve problema nos seus ossos e depois segue um fluxo mais linear. Na minha opinião, o ponto forte é quando ela aposta na confusão cronológica, optando por uma "linearidade de clímax". O que dita a sucessão de acontecimentos é sua importância e não sua época exata.


Da mesma forma, roteiros de cinema que contam uma história - biográfica ou não - não precisam apostar em uma narrativa linear. O (melhor) exemplo (de todos) é Cidadão Kane. O roteiro começa com a morte do personagem principal e ao voltar para seu passado aposta em um vai e vem com o presente onde os flashbacks se complementam e termina após a morte. Rosebud.


Descomeços
A teoria, essencial para qualquer exemplar de jornalismo literário, revela possibilidades inovadoras para qualquer outro exemplo de comunicação. Uma reportagem para o rádio sobre Romário pode começar com a narração de seu gol a Suécia na copa de 94 e terminar com sua declaração "quando eu nasci, papai do céu disse: esse é o cara". Aquele livro que você nunca começou a escrever não precisa começar pelo primeiro capítulo. Quem sabe se não pelo penúltimo ato. Impossível?


Falando em impossível e começar pelo penúltimo ato...Vocês viram Missão Impossível 3? Pois é...

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Nas manchas de jornal

Tiago Cordeiro (*)

A primeira vítima foi a televisão. Plana e com antena parabólica, foi vendida ao vizinho, ou melhor, trocada por uma coleção de livros raros: "Os Filósofos". Em seguida, se desfez do celular. "Oferecemos um plano especial se o senhor continuar..." muitos "nãos" e a indisfarçável certeza que a entrada do inferno passa por algum telefonema de operador de telemarketing, conseguiu cancelar as duas linhas: a móvel e a imóvel. Costume e necessidade.

Toninho (óbvio apelido de Antônio) decidira se livrar de tudo o que fosse tecnologia de telecomunicações. Não seria mais encontrado em qualquer lugar para conversar por telefone, teriam que lhe visitar. Não trocaria mais uma boa leitura pela TV. O mais difícil foi livrar-se do computador. Trocou-o por um crédito gigante de cópias coloridas e em preto & branco na loja em que o vizinho era dono e mais uma máquina de escrever digital. Saudável exceção justificada pelo paradoxo: a máquina era muito inferior a um computador e muito superior a uma máquina de escrever convencional.

O aparelho exibia em um pequeno visor o texto que, ao ser confirmado como correto, era impresso. Perfeito para as aspirações literárias do escrivão que decidira não participar mais do mundo globalizado digitalmente.

"Não quero mais isso para mim".

Há meses pensara a respeito. A decisão foi sacramentada quando chegou em casa mais cedo para descansar de um dia estressante e logo tocou o telefone de casa. Era um amigo que lhe ocupou por horas sem que pudesse dispensá-lo. Ainda conseguiu desligar a tempo de dormir antes da novela, mas seu celular tocou e enquanto jogava conversa fora com um colega jornalista assistia TV. Ao desligar, teve que ver e ouvir a série que - até então - assistia no mudo. Sem sono no fim da novela, foi ao computador e no dia seguinte estava mais cansado do que nos outros dias. "Informação é vício", manter-se informado em todas as séries, jornais e canais, em contato com todos os amigos e parentes era uma forma irresistível de existir. Pensava que quanto mais se inteirava mais completo era. Porém pedira arrego, água, trégua e afins. Não queria mais ser tão completamente informado em tempo real. Dali para frente conviveria apenas com o jornal, seus livros e algumas crônicas e contos para a tão sonhada publicação de um livro. Romance era coisa de outra época.

Diário de um órfão

Sou órfão sim. Órfão de me manter tão por dentro de tudo. Parei no tempo mas parei sem vergonha. Pelo menos acompanho o mundo real a passos regulares. Na música parei há 40 anos, duas overdoses e uma bala certeira. Cinema eu abri mão a não ser em festivais de preto & branco, talvez possa reconsiderar.

Talvez encontre nas manchas do jornal lido, no cansaço da leitura e no tédio e falta de vontade de escrever o que todos procuram. O ócio criativo pode ser o ócio do nosso auto-conhecimento.

Sinto falta das manchas de jornais.



(*) Publicado originalmente no Comunique-se

sexta-feira, dezembro 08, 2006

O insípido veneno de Bruna Surfistinha

(*) Publicado originalmente no Sobrecarga

No início do ano, publiquei uma resenha do livro O Doce Veneno do Escorpião na qual elogiei o livro de Rachel Pacheco ou Bruna Surfistinha. Algum tempo depois, a ex-garota de programa resolve lançar um livro explicando assuntos anteriores e algumas histórias que não foram publicadas no primeiro livro.

Se no primeiro livro, a surpresa ficava por conta do lado franco de Rachel/Bruna, neste a novidade seria o desabafo em relação ao que a fama lhe trouxe. Seja na exploração que a Rede TV! cobriu sua história (segundo a blogueira promovendo Samantha Moraes, ex-mulher de seu namorado, de forma supostamente parcial e apelativa) ou em novos casos, Tudo Que Aprendi Com Bruna Surfistinha é muito mais um inusitado diário do que um bom livro. A publicação interessa apenas a leitores que gostem de histórias de celebridades. No caso, a celebridade Rachel Pacheco/ Bruna Surfistinha.

"Esse vai ser apenas um relato do que o mundo e a vida me ensinaram até este momento. Nesta curta, mas intensa trajetória, muita gente fez questão de não me enxergar. Na verdade, se O Doce Veneno; retratava uma ex-garota de programa sem cair na armadilha de sentir-se culpada ou culpar o mundo, Tudo Que Aprendi é exatamente o contrário. A autora (ou relatora, já que o depoimento foi dado ao jornalista Jorge Tarquini) passa a explicar, exageradamente, seu lado em situações que não deveriam figurar além de uma revista de fofocas ou da biografia de uma grande estrela de cinema.

O ponto é exatamente que nem Bruna Surfistinha e tampouco Rachel Pacheco são grandes estrelas. Suas vidas são tão interessantes como a de qualquer outra ex-prostituta, o que tornava atraente era justamente a forma como eram contadas.

No primeiro livro, não importava a opinião alheia ou pré-conceitos. No segundo, a insistência em explicar e reescrever casos antigos torna a história banal. O livro de uma ex-garota de programa não precisa ser uma coletânea de histórias sexuais (O Doce Veneno; não era), mas precisa segurar o leitor. Cartas familiares, textos do Google e de outros fóruns (ainda que relevantes) e explicações sobre o que fulana e ciclana dizem soam como qualquer Contigo da semana.

A diferença é que nesse tipo de revista você encontra uma novidade toda semana (e é nesse "barulho"; que elas apostam para deixar você sempre interessado), na literatura é preciso mais profundidade e variedade. Talvez Bruna/ Rachel devessem ter deixado a carreira de escritora de lado. “Tudo Que Aprendi” não vale um livro e nem seu preço. Colunas ou entrevistas em uma revista de fofocas teriam mais valor. Ou melhor seria se toda história fosse contada em um blog. Seria gratuito. E talvez mais rápido.

(*)O texto foi redigido por este blogueiro.